Anunciado em 2014 como exclusivo para PS4, Wild surgiu como um dos projetos mais ambiciosos da época, desenvolvido pela nova produtora independente de Michel Ancel, a Wild Sheep Studio, e publicado pela Sony Interactive Entertainment. Com uma proposta inovadora, o jogo prometia uma experiência de sobrevivência em um mundo selvagem e misterioso.
Entretanto, o que começou como uma aventura promissora rapidamente se transformou em um conto de decepção e abandono. Em entrevista recente, Michel Ancel trouxe à tona as circunstâncias que levaram ao cancelamento do jogo e apontou a Ubisoft como uma das principais responsáveis pela derrocada do projeto.
A transição problemática de Wild para a Ubisoft
Em 2018, Wild já possuía uma versão jogável considerada “muito boa”, segundo Ancel. Contudo, a adaptação para o PS5 acabou atrasando o progresso do projeto. Além disso, mudanças significativas na gestão da Sony resultaram na interrupção do jogo.
Nesse momento, a Ubisoft entrou em cena, oferecendo-se para assumir o projeto. Pouco depois, a Sony tentou recuperar o controle de Wild, chegando a oferecer o dobro do orçamento original. No entanto, devido a contratos avançados com a Ubisoft, a proposta foi recusada, algo que Ancel descreve como “um grande desperdício”.
A influência da Ubisoft Paris e o impacto das crises internas
A situação de Wild piorou quando o projeto foi transferido para a Ubisoft Paris, sob a liderança de Tommy François, que posteriormente enfrentou acusações de má conduta sexual e deixou a empresa.
Segundo Ancel, o departamento editorial da Ubisoft estava em pleno caos na época, o que impactou diretamente o desenvolvimento do jogo. “O jogo caiu nas mãos de pessoas que solicitavam inúmeras mudanças sem sequer jogá-lo”, afirmou. Ele classificou o período como “um verdadeiro escândalo”.
Após dois anos de incertezas, Wild foi abandonado sob a justificativa de que o jogo já não correspondia mais à sua visão inicial. Para Ancel, o resultado foi um reflexo das crises internas enfrentadas pela Ubisoft na época, incluindo a desorganização no setor editorial.
Burnout e o fim da carreira de Michel Ancel
O cancelamento de Wild, aliado aos problemas enfrentados em outro projeto de peso, Beyond Good & Evil 2, levou Michel Ancel a sofrer um burnout. Em retrospectiva, ele reconheceu que a pressão de trabalhar em dois projetos complexos ao mesmo tempo teve um impacto devastador em sua saúde mental e vida pessoal.
“No início de 2020, decidi parar com tudo, especialmente porque minha vida familiar estava sendo seriamente afetada pelo meu burnout”, revelou Ancel. A decisão marcou o fim de sua carreira na indústria de videogames, deixando para trás um legado marcado por sucessos como Rayman, mas também por projetos frustrados como Wild.
O que poderia ter sido: o potencial perdido de Wild
Embora nunca lançado, Wild continua a gerar curiosidade entre os fãs. Michel Ancel mencionou que ficaria feliz em compartilhar vídeos das demonstrações jogáveis de 2018, tanto de Wild quanto de Beyond Good & Evil 2, descrevendo ambos os projetos como “mais do que promissores”.
A história de Wild serve como um lembrete de como decisões corporativas, crises internas e má gestão podem comprometer até mesmo os projetos mais ambiciosos. Resta apenas imaginar o impacto que o jogo poderia ter causado na indústria, caso tivesse sido concluído.
O cancelamento de Wild é mais do que uma história de um jogo perdido; é um exemplo das complexidades da indústria de videogames, onde talentos criativos frequentemente enfrentam obstáculos administrativos e corporativos. Apesar de sua ausência, Wild permanece vivo na memória de muitos como um símbolo de potencial não realizado.
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Fonte: VGC.